06/07/2012 | EDUCAÇÃO
            
            Jornal Valor: “Delírios não cabem no caixa dos Municípios”
            Em matéria publicada na edição desta 
quinta-feira, 5 de julho, de autoria do jornalista Ribamar Oliveira, o jornal 
Valor Econômico analisa a dificuldade que o piso dos 
professores causa aos Municípios e a maioria dos Estados. O piso dos professores 
do ensino básico, que está hoje em R$ 1.451 será reajustado em 21,8% em janeiro 
do próximo ano.
Esse aumento já está 
contratado e só não ocorrerá se o Congresso Nacional mudar a Lei 11.738/2008 
antes do fim deste ano. Essa é a principal preocupação hoje dos prefeitos e 
governadores, pois a maioria deles garante que não tem como pagar o novo 
aumento. Só para lembrar, o piso, que também vale para os professores 
aposentados, foi reajustado em 22,2% em janeiro deste ano.
 Antônio Cruz / 
ABrPrefeitos 
sofrem pressão do aumento das despesas
Antônio Cruz / 
ABrPrefeitos 
sofrem pressão do aumento das despesas
Esse projeto foi aprovado 
pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, em novembro do ano passado, em 
caráter terminativo, depois de ter passado pelo Senado. O projeto seguiria para 
sanção da presidente Dilma Rousseff. Mas no início de dezembro a deputada Fátima 
Bezerra (PT-RN) apresentou recurso, subscrito por outros deputados, para que o 
projeto fosse submetido ao plenário da Câmara. Ele aguarda entrar na ordem do 
dia, mas são poucos os parlamentares que acreditam que, em ano de eleição 
municipal, a Câmara vote esse projeto. Talvez após as eleições.
 Um princípio fundamental 
da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não vem sendo respeitado por senadores e 
deputados. A LRF, em seu artigo 17, diz que uma despesa obrigatória de caráter 
continuado só pode ser criada ou aumentada se for demonstrada a origem dos 
recursos para o seu custeio. Os prefeitos, principalmente, estão sofrendo com o 
constante aumento de suas atribuições pelo Congresso, sem que haja preocupação 
em indicar as fontes de receita que vão custear os novos gastos. 
Avaliação do 
impacto
Não consta que houve uma avaliação do impacto da Lei 
11.738/2008 nas finanças das prefeituras e dos governos estaduais. A lei também 
não indicou as fontes de receita para cobrir os novos gastos. O piso dos 
professores do magistério público, no entanto, é apenas um dos 
casos.
O programa 
Proinfância do governo federal é outro exemplo. Por meio desse programa, o 
governo federal transfere recursos às prefeituras para a construção e a 
aquisição de equipamentos e mobiliário destinados a creches e a pré-escolas 
públicas da educação infantil. O problema é que o custeio dessas creches e 
pré-escolas, que precisam contar com pessoal especializado, é elevado e fica por 
conta das prefeituras.
A Confederação Nacional do Municípios (CNM) 
estima que o custo médio de cada criança mantida em uma creche em tempo integral 
é de R$ 600 por mês, em média. Para essa finalidade, o prefeito só pode contar 
com R$ 200 por mês, por criança, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da 
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O 
restante ele terá que tirar da receita de seu Município, que já está 
comprometida com outros encargos. A criação de creches e pré-escolas é 
fundamental para a melhoria da qualidade do ensino do país, mas é preciso 
perguntar como esse programa será custeado.
As agruras 
dos prefeitos não acabam aí. Ninguém questiona a importância do programa Saúde 
da Família (PSF) para a melhoria da vida do brasileiro. O programa prevê a 
criação de equipes que acompanharão as famílias, em ações de prevenção, 
recuperação e reabilitação de doenças. Cada equipe é constituída por um médico, 
que trabalha em tempo integral, um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem. 
Existem, atualmente, cerca de 32 mil dessas equipes nas prefeituras brasileiras, 
segundo o presidente da CNM, Paulo 
Ziulkoski.
O custo médio 
mensal de cada uma dessas equipes, de acordo com Ziulkoski, é de R$ 35 mil. "Não 
é possível encontrar um médico que trabalhe em tempo integral e queira receber 
menos de R$ 10 mil por mês", observa Ziulkoski. Para custear essa despesa, cada 
prefeitura recebe do Ministério da Saúde R$ 9 mil por mês por equipe, de acordo 
com o presidente da CNM. O restante é custeado com recursos próprios da 
prefeitura.
 Pref. Novo Hamburgo (RS)Avaliação da 
CNM
Pref. Novo Hamburgo (RS)Avaliação da 
CNM
Outra bomba está para explodir no colo dos prefeitos. A lei que 
estabelece normas para o Saneamento Básico prevê que, até 2014, todas as 
prefeituras devem estar recolhendo o lixo de forma seletiva, fazendo a 
compostagem do que for orgânico e transformar os chamados lixões em aterros 
sanitários. Atualmente, segundo Ziulkoski, apenas 36% dos Municípios brasileiros 
possuem aterros sanitários.
 O presidente 
da CNM estima que será preciso gastar cerca de R$ 70 bilhões para implementar 
essa determinação legal. É importante observar que a receita própria anual de 
todos os Municípios é de cerca de R$ 70 bilhões - nesse montante não estão 
incluídas as transferências recebidas. "A despesa corresponde a um ano da 
arrecadação municipal", afirma Ziulkoski.
Ele lembra 
que no dia 2 de agosto acaba o prazo para que os Municípios apresentem um plano 
sobre a gestão dos resíduos sólidos. "Só 20% dos Municípios fizeram o plano", 
informa.
A situação do 
prefeito é ainda mais difícil porque se não cumprir o que determina a 
legislação, ele sofrerá a cobrança do Ministério Público, com ações na Justiça. 
Em sua defesa, ele tem apenas o artigo 17 da LRF, que não está sendo respeitado 
Em recente 
entrevista ao Valor, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, 
também manifestou preocupação com o aumento. Ele disse que esse reajuste, junto 
com outros projetos em discussão no Congresso e que elevam as despesas públicas, 
pode "quebrar um Estado". Ontem, foi a vez do ministro da Fazenda, Guido 
Mantega, alertar sobre a criação de novos gastos pelo Congresso, embora ele não 
tenha se referido especificamente ao piso dos professores. Mantega também falou 
em quebra do Estado.
A Lei 
11.738/2008 estabelece que o piso deve ser atualizado, anualmente, em janeiro, 
utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo a ser 
gasto por aluno da 1.ª à 4.ª série do ensino fundamental. Existe um projeto na 
Câmara, pronto para ser submetido ao plenário, que muda o critério de correção 
do piso. Ele passaria a ser atualizado pela variação do Índice Nacional de 
Preços ao Consumidor (INPC).